Torcer para o Brasil na Copa pode aumentar risco de infarto? Depende, diz a ciência



A ciência há muito tempo estuda a relação entre emoções fortes e dano ao coração. Estudos mostram que quem perde um ente querido, por exemplo, tem maior risco de infarto. Mas agora, pesquisas nos últimos anos começaram a verificar que algumas emoções aparentemente menos graves - como um jogo estressante de futebol - também podem ser um gatilho para uma hospitalização por problemas cardíacos.

Em relação ao futebol especificamente, estudos brasileiros já se debruçaram sobre essa associação. Um levantamento da USP de Ribeirão Preto mostrou que as chances de um infarto nos períodos de realização da Copa é maior do que em qualquer outra época do ano: o índice de pacientes infartados nessas épocas cresceu de 4% a 8%.

Outras pesquisas, como as coordenadas pelos cardiologistas Álvaro Avezum, do Instituto Dante Pazzanese, e Nabil Ghorayeb, do Hospital do Coração, também viram que há mais atendimentos relacionados a problemas no coração durante a Copa.

Os especialistas realizaram estudos em 2010, em 2014 e também planejam estudos para 2018. Na Copa de 2014 no Brasil, eles analisaram internações durante vários jogos em oito hospitais no Brasil.

Na pesquisa, cada pessoa que aparecia no pronto-atendimento com sintomas de emergência cardiovascular respondia a um questionário sobre eventos que antecederam os sintomas. A pesquisa era feita um dia antes do jogo, durante a partida e dois dias depois.

O médico, também colunista do "Eu Atleta", explica que o modo como o jogo vai influenciar o coração do indivíduo depende da importância que ele dá ao futebol e à expectativa que ele tem sobre a partida - bem como por variáveis que passam por questões relativas à identidade (o jogo ter um impacto muito grande sobre o bem-estar), nacionalismo (o desempenho do país ser muito importante), e até classe social (pessoas de classe média baixa costumam ser mais impactadas).



"Agora, na final entre Argentina e Alemanha, muitos estavam torcendo contra a Alemanha, e, quando a seleção alemã ganhou o Mundial, o impacto parece ter sido maior."

Os pesquisadores também fizeram um estudo piloto em 2010, nos jogos da África do Sul. "No dia que o Brasil perdeu da Holanda, o número de internações por evento cardiovascular aumentou 28%", diz Ghorayeb.

Pesquisas de fora do Brasil também observaram essa relação. Um estudo alemão publicado no "New England Jornal of Medicine", sobre os jogos da Alemanha em 2006 mostrou que, nos dias em que a Alemanha jogava, houve um aumento 2,66 maior no número de emergências cardíacas: esse dado é maior em homens (3,26); nas mulheres, o aumento foi menor (1,82).

Cuidados e fatores de risco

Nabil Ghorayeb explica que, se o indivíduo já tem algum problema cardiovascular, o risco de ter algum evento durante o jogo aumenta. Ele cita levantamento da FIFA de 2014 que mostrou que duas mortes de torcedores que compareceram ao estádio estavam relacionadas ao coração. Um torcedor argentino e outro português morreram em jogos do Mundial no Brasil. Os dois eram cardiopatas.

O exagero na bebida álcoolica também aumenta o risco, descreve o cardiologista. "Há efeitos colaterais da bebida no coração. Há maior impacto emocional do jogo sob os efeitos do álcool", diz Ghorayabe.

O médico também recomenda que o torcedor com tendência a ficar mais emocionado durante os jogos não assita aos jogos sozinho - e sempre na presença de, pelo menos, mais um adulto.

Quem é cardiopata ou tem pressão alta, o especialista recomenda tomar os medicamentos antes da partida. Outro ponto é cortar o cigarro, ou até ser radical e se afastar totalmente da televisão se o torcedor perceber que o estresse está ficando fora do controle.

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